Imagens Estereotípicas de Família e Casal no Contexto da pandemia da Covid-19
Stereotypical images of family and couple in the context of the Covid-19 pandemic
Imágenes estereotípicas de la familia y la pareja en contexto de la pandemia de Covid-19
Hector Cavieres-Higuera
Universidad Católica Silva Henríquez
João Carlos Caselli Messias1
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-CAMPINAS)
Laura Baldan
Colégio de Aplicação Pio XII
Resumo
O distanciamento sanitário imposto pela pandemia da covid-19 vem gerando repercussões em inúmeros contextos, entre eles, o das relações familiares, cujas rotinas foram repentina e abruptamente transformadas. Em questão de poucas semanas, o espaço doméstico teve de ser adaptado para atender a demandas profissionais, escolares e de lazer. Este estudo objetivou analisar categorias estereotípicas de família e casal no contexto da pandemia presentes em imagens humorísticas veiculadas pelas redes sociais. Os resultados desta pesquisa de inspiração netnográfica com análise de conteúdo indicam a percepção de aprisionamento, sendo a mulher vista como carcereira e o marido oscilando entre vítima passiva ou rebelada, o que naturaliza situações de agressão, situação intensificada quando há filhos. Constata-se a perpetuação de injustiça em relação à imagem da mulher, tradicionalmente mais onerada pelas atividades familiares e vista como vilã no casamento.
Palavras-chave: estereótipos, gênero, violência contra mulher, netnografia
Abstract
The sanitary distancing imposed by the covid-19 pandemic has had repercussions in many contexts, including family relationships, whose routines were suddenly and abruptly transformed. In a matter of a few weeks, the domestic space had to be adapted to meet professional, school, and leisure demands. This study aimed to analyze stereotypical categories of family and couple in the context of the pandemic present in humorous images broadcast by social networks. The results of content analysis in this netnographic-inspired research indicate the perception of imprisonment, with the woman being seen as a jailer and the husband oscillating between a passive or rebellious victim, which naturalizes situations of aggression, an intensified situation when there are children. There is a perpetuation of injustice concerning the image of women, traditionally more burdened by family activities and seen as a villain in marriage.
Keywords: stereotypes, genre, violence against women, netnography
Resumen
La distancia sanitaria impuesta por la pandemia de covid-19 ha tenido repercusiones en muchos contextos, incluidas las relaciones familiares, cuyas rutinas se transformaron repentina y abruptamente. En pocas semanas, el espacio doméstico tuvo que adaptarse a las demandas profesionales, escolares y de recreación. Este estudio tuvo como objetivo analizar categorías estereotipadas de familia y pareja en el contexto de la pandemia presentes en imágenes humorísticas difundidas por las redes sociales. Los resultados de esta investigación de inspiración netnográfica con análisis de contenido señalan la percepción del encarcelamiento, siendo la mujer vista como carcelera y el marido oscilando entre víctima pasiva o rebelde, lo que naturaliza situaciones de agresión, situación que se agudiza cuando hay hijos. Hay una perpetuación de la injusticia en relación con la imagen de la mujer, tradicionalmente más agobiada por las actividades familiares y vista como una villana en el matrimonio.
Palabras clave: estereotipos, genero, violencia contra la mujer, Netnografia
Introdução
A pandemia da covid-19 tem provocado profundos impactos no modo de vida da população mundial. Em função do alto poder de contágio e, inicialmente, da inexistência de uma vacina eficaz contra o novo coronavírus batizado como SARS-CoV-2, o distanciamento sanitário foi adotado como uma das principais estratégias de combate à doença (Wang, Wang, Ye, & Liu, 2020). Contudo o que deveria funcionar como fator de proteção, paradoxalmente, expõe mulheres e crianças à violência doméstica, amplificada por estresse, isolamento e perda de emprego (Bradbury‐Jones & Isham, 2020), sendo que, no Brasil, os casos aumentaram em 40% a 50% na primeira onda da pandemia (The Guardian, 2020), chegando a mais de 6.600.000 pessoas infectadas no início de dezembro (Brasil, 2020; Organização Mundial da Saúde [OMS], 2020). Ainda que essas não sejam as causas da violência doméstica, esses fatores contribuem para o aumento da incidência de casos, somados a uma dificuldade de acesso a estes. No Chile, reclamações caíram entre 12% e 20%, mas as ligações para socorro aumentaram entre 60% e 80%, o que significa haver maiores índices de violência com menores possibilidades de denúncia (Chile, 2020).
O aumento da violência doméstica é observado em situações posteriores a desastres como furações, incêndios ou terremotos. No caso da covid-19, contudo, surgem casos em que a pandemia é usada como justificativa para abusadores dominarem suas vítimas (Kofman & Garfin, 2020), em um contexto de impotência generalizada diante o risco da morte, de uma maneira distante e impessoal (Mazza, Marano, Lai, Janiri, & Sani, 2020). O isolamento físico, geográfico, social e funcional ao qual as pessoas em geral ficaram submetidas, somado à vigilância e ao controle de atividades diárias, é condição que favorece, ainda que não determine, a violência doméstica (Van Gelder et al., 2020).
Diversas são as notícias a respeito da escalada de agressividade, estados confusionais, de estresse pós-traumático e aumento do uso de substâncias por parte dos adultos em período no qual as escolas também deixaram de funcionar. Além do fato de que a quebra de rotina, em si, seja perturbadora e difícil para as crianças, a exposição direta ou indireta à violência pode levá-las a desenvolver sérios problemas psicológicos (Humphreys, Myint & Zeanah, 2020). O fato de haver uma redução nas denúncias de maus-tratos às crianças durante a pandemia da covid-19 é fator de preocupação, pois pode estar ligado ao fechamento de escolas e instituições que poderiam detectar tais ocorrências (Campbell, 2020). Por essa razão, Usher, Bhullar, Durkin, Gyamfi e Jackson (2020) alertam para a necessidade de atenção, por parte do governo e autoridades, bem como para o suporte social às famílias em suspeita de risco.
Em meio a um cenário sem precedentes, as redes sociais tornaram-se um canal ainda mais relevante de comunicação. Um estudo desenvolvido por pesquisadores do Canadá, Estados Unidos da América (EUA) e China analisou 301.606 publicações do Twitter a partir de hashtags que faziam menção ao tema e identificaram nove categorias principais, a saber: 1) impacto da covid-19 na violência familiar; 2) tipos; 3) meios; 4) fatores de risco; 5) vítimas; 6) serviços de apoio social; 7) respostas legais; 8) movimentos sociais e 9) notícias, elementos que permitem uma aproximação com a maneira como a sociedade está encarando a questão (Xue, Chen, Chen, Hu & Zhu, 2020).
No espaço da comunicação, a realidade social ganha concretude em relações intersubjetivas carregadas de representações simbólicas, estereótipos e questões de poder. Durante séculos, a violência de gênero vem sendo culturalmente legitimada de maneira explícita e implícita, a partir de um sistema patriarcal que degrada e desvaloriza a mulher, tida como inferior ou mesmo propriedade do homem (Espinoza, 2016). Nesse aspecto, estereótipos de gênero exercem um relevante papel, mesmo quando são tidos como positivos (e.g., “mulheres são acolhedoras”). De acordo com o Escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), estereótipos de gênero, que são crenças e suposições sobre os membros de um grupo em questão, podem tornar-se prejudiciais quando limitam as possibilidades pessoais e profissionais de mulheres e homens, bem como suas escolhas e planos de vida (Office of the High Comissioner Human Rights United Nations [OHCHR], 2014).
No tocante à honra, discussões enfocam o papel socializador e familiar das mulheres. No estudo de Chalman, O’Dea, Renfroe e Saucier (2021), constata-se que reações agressivas a insultos são bem-aceitas quando se tratam tanto de homens quanto mulheres. Contudo, somente as mulheres não eram percebidas de maneira negativa quando preferiam não reagir agressivamente. Esses resultados podem estar vinculados a uma ideia de homem dominante e mulher submissa.
De acordo com Kwiatkowska (2013), a violência doméstica tende a ser compreendida como se fosse um fenômeno restrito a ambientes pobres e marginalizados, nos quais existiria uma dicotomia de estereótipos de gênero, em que mulheres são percebidas como damas ou vagabundas, e homens, como cavalheiros ou brutos. Classes sociais favorecidas, portanto, estariam isentas desse problema. A linguagem empregada para descrever situações de violência doméstica, carregada de termos concretos ou abstratos, por sua vez, pode desvelar tais percepções implícitas.
Vítimas de estupro, que pode ser considerada uma das mais terríveis formas de violência contra a mulher, muitas vezes são duplamente violentadas. A segunda violência se dá na forma de culpabilização da vítima, quer seja por um suposto descuido, tipo de vestimenta, quer seja por julgamentos morais. A partir da Teoria de Justificação de Sistema, Ståhl, Eek e Kazemi (2010) esclarecem que vítimas de violência ameaçam a ideia de justiça e igualdade entre homens e mulheres. Por essa razão, uma maneira de acomodar a angústia diante da crueldade e insegurança é buscar explicações para o fato e, com isso, a mulher passa de vítima para causadora do ato.
Método
Desde as primeiras semanas de distanciamento sanitário, diversas imagens humorísticas (conhecidas como memes) começaram a circular pelas redes sociais. Diante desse fenômeno, levantou-se a seguinte questão norteadora: “Quais categorias estereotípicas estão subjacentes aos memes relacionados a famílias e casais em meio à pandemia?” A fim de responder a essa questão, foram empregados princípios da netnografia, uma variação da etnografia, aplicada ao meio digital e que não se restringe à mera codificação de informações disponíveis na Internet (Kozinets, 2014). Trata-se de um método que busca a compreensão de fenômenos culturais e sociais a partir da mediação de computadores e redes sociais, variando desde plena participação dos pesquisadores nessas comunidades até o oposto, um tipo silencioso e não participante. Interessam não apenas conteúdos compartilhados, mas também o contexto, tipos de interação, linguagem, momento histórico e significados compartilhados, o que permite a sua aplicação em pesquisa de temáticas bastante variadas (Bomfim & Lucena, 2019; Damascena & Vale, 2020; Corrêa & Rozados, 2017; Sousa, Paula, Pelinson, Antunes, & Oliveira, 2019) e constituiu a razão pela opção para o presente estudo.
Desde o início da pandemia, os pesquisadores notaram a divulgação espontânea do tipo de material em questão a partir de suas redes sociais e contatos particulares. A partir dessa percepção, sistematizaram o estudo e solicitaram, ativamente, que seus contatos enviassem a eles todo todo material que recebessem dentro dos seguintes critérios: 1) fazer clara alusão à pandemia; 2) referir-se a relacionamentos conjugais e/ou familiares, numa estratégia, em certa medida, semelhante à técnica de bola de neve, amplamente utilizada em pesquisas qualitativas. Durante os meses de abril a julho de 2020, colecionaram memes veiculados em redes sociais, como Facebook, Instragram e Twitter, e compartilhados via WhatsApp. Após a exclusão de memes que faziam menção apenas a um dos critérios, por exemplo, vicissitudes do teletrabalho em tempos de pandemia, porém sem menção ao relacionamento conjugal ou familiar e dos repetidos, foi montado um banco de 76 imagens e vídeos que compõem o corpus do presente estudo.
Feita a seleção, as imagens foram analisadas sob o esquema de análise de conteúdo, que, num sentido amplo, refere-se a uma técnica de interpretação de textos que podem constar de formatos escritos, gravados, pintados ou filmados (Abela, 2008). Considerando-se que o material analisado foram imagens e vídeos, foi dada especial atenção aos elementos contextuais (Gómez, 2015). Uma vez localizado o contexto, procedeu-se a análise ao nível dos significados, seguindo o esquema tradicional de análise de conteúdo para a construção de categorias (Campuzano Ruiz, 1992). Para isso, e de acordo com a proposta teórica, buscaram-se elementos dos estereótipos familiares e conjugais presentes nas imagens e nos vídeos analisados (Piñuel, 2002).
Resultados e Discussão
Muitos anúncios publicitários veiculados em meio à pandemia faziam apelos à vida familiar, como nos planos de telefonia celular que enfatizavam a proximidade ou de produtos alimentícios, com o argumento de que aprender novas receitas poderia ser uma boa maneira de passar o tempo juntos. Contudo, além de indicadores objetivos acerca do aumento das tensões e violência, o conteúdo humorístico veiculado nas redes sociais indicava sinais de desgaste e do desejo de que a convivência intensiva terminasse logo. A partir da análise de conteúdo efetivada, duas categorias centrais se destacam: 1) a de que a vida familiar é uma prisão e a mulher é a carcereira e 2) o sofrimento é maior quando se tem filhos (Figura 1). Cada categoria contém duas subcategorias específicas, que serão ilustradas com um meme representativo.
Figura 1. Categorías estereotípicas encontradas.
Estereótipos relacionados à vida conjugal: a mulher é a carcereira
No contexto de uma pandemia, surge aquela simplificação da relação do casal, em que a mulher consegue o que sempre quis: o homem em casa. Por sua vez, aquele homem que sempre tenta não voltar para casa, que em um período regular o consegue com trabalho, futebol, amigos ou cerveja, neste cenário de confinamento é forçado a permanecer no local de onde costuma tentar fugir, conforme Figura 2. Diante disso, suas reações são, basicamente, de dois tipos: aceitar passivamente ou rebelar-se.
Figura 2. Na vida conjugal, a mulher é a carcereira.
Aceitar Passivamente
O patriarcado e os estereótipos de gênero instalaram a ideia de que o cenário do lar, da casa, do contexto doméstico é tido como território da mulher, supostamente a principal responsável pelos cuidados com a família. Esses espaços seriam femininos, bem como a administração diária do tempo, de horários e tarefas domiciliares. Este tipo de compreensão se coloca em oposição ao que seria o espaço natural do homem, fora de casa, no mundo, no trabalho (Amann Alcocer, 2005; Calonge-Reíllo, 2011; Cerda & Carolina, 2019; Jiménez, 2016). Assim, muitas das funções que o homem deveria desempenhar são marginalizadas porque sua cena de ação estaria em outro lugar. Os memes dão a entender que, agora, ele é forçado a ficar em casa e a realizar atividades típicas do lar, como passar roupas, lavar louça e cozinhar. O homem é colocado como vítima das ordens da mulher e as obedece para não sofrer consequências.
Figura 3. O homem como vítima passiva.
Dados da Organização Internacional do Trabalho [OIT] (2016) já apontavam que, em países desenvolvidos, as mulheres realizam aproximadamente quatro horas de trabalho não remunerado, e os homens, duas horas. Nos países em desenvolvimento, as mulheres realizam aproximadamente quatro horas e meia, e os homens, apenas uma hora. No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2018) dão conta de que mulheres não empregadas dedicam 23,8 horas em afazeres domésticos e cuidados de pessoas, enquanto os homens na mesma situação dedicam apenas 12 horas. Mulheres empregadas dedicam 18,5 horas nas mesmas atividades, ao passo que homens empregados dedicam 10,3 horas. No Chile, as mulheres dedicam 9 horas a mais do que os homens para trabalhos domésticos e 14 horas semanais a mais dedicadas ao cuidado com os filhos (El Mostrador, 2020). De acordo com o relatório sobre desigualdade de gênero publicado pelo Fórum Econômico Mundial, ainda não haverá paridade de condições pelos próximos 99 anos (World Economic Forum [WEF], 2020).
A estranheza e vitimização masculina diante do trabalho doméstico podem estar vinculadas ao fato de que, ao contrário das mulheres, culturalmente não há a mesma expectativa de responsabilidade sobre os homens. Estes também não enfrentam os mesmos desafios em relação a conciliar a carreira profissional com as demandas familiares, conforme os dados apontados tradicionalmente (IBGE, 2018; OIT, 2016). Por outro lado, estudos a respeito do que se convencionou chamar de “segundo turno” já constatavam a sobrecarga feminina em lidar com a própria carreira e os afazeres domésticos (Blair-Loy, Hochschild, Pugh, Williams, & Hartmann, 2015) e do “terceiro turno”, no caso daquelas que, além da carreira e trabalho de casa, ainda precisam investir em educação continuada para manterem-se competitivas no trabalho (Vieira & Amaral, 2013).
Esse tipo de imagem contradiz os achados de Chalman et al. (2021) a respeito do que se espera de homens e mulheres diante de um insulto ou situação de agressão. Segundo esses autores, os homens são mal avaliados diante da ausência de uma reação agressiva quando insultados, ou seja, respostas consideradas passivas seriam um comportamento supostamente aceito apenas no caso das mulheres. Nessa categoria de memes, os papéis estão invertidos, sendo a mulher a opressora e o homem a vítima, residindo justamente nisso o elemento mais irônico do que cômico das imagens.
Rebelar-se
Outra forma de sobrevivência é rebelar-se contra a autoridade do lar, e isso aparece em ameaças ocultas ou no desejo de que a autoridade desapareça ou morra. Se entendemos a imagem como expressão de humor, devemos considerar que funciona como um ato performativo, ou seja, que em si mesmo constrói a realidade que anuncia. Assim, ao abordar a realidade de maneira fantasiosa, indica a violência de forma a livrá-la de sanções, uma vez que não deveria ser levada a sério.
Pode-se observar, portanto, um processo de naturalização da violência, pois a morte é colocada como uma opção válida para escapar da tortura da vida de casal. A naturalização da violência aparece neste espaço como forma de fugir da suposta situação de opressão (Beltrán, 2016; Casado, 2017), como se nota na Figura 4.
Figura 4. Rebelar-se contra o cárcere.
Essa categoria talvez seja a mais preocupante, pois implica a ideia de que a agressão a um suposto algoz, a mulher, no caso, é legítima em função do direito à liberdade. Numa situação de incremento do estresse, perturbação da rotina e risco de perdas, como indicado por Bradbury‐Jones e Isham (2020), as tensões conjugais ficam exacerbadas, podendo colocar a mulher em uma condição de maior vulnerabilidade, como depositária das frustrações do marido. Desta forma, o risco é proporcional à percepção de que um ato violento é uma forma de legítima defesa do homem, e não um ato violento, propriamente.
Considerando que se estima que uma em cada três mulheres pode vir a sofrer algum tipo de violência de gênero ao longo da vida (Van Gelder et al., 2020), há um cruel elemento cultural na imagem da carcereira. É fato que a violência pode ser praticada por mulheres contra homens ou mesmo entre casais homoafetivos, porém as mulheres são muito mais acometidas (Bradbury‐Jones & Isham, 2020), o que pode estar relacionado a construções sociais machistas que se perpetuam ao longo do tempo. O comportamento agressivo, como ponderam Mazza et al. (2020), pode ter um componente de autopreservação e defesa, porém o que se questiona é que esse parece não ser o caso, o que conduziria ao efeito deletério, descrito por esses mesmos autores, de aniquilamento do outro.
Assim, a combinação de um ponto de vista que faz a mulher parecer regojizar-se das privações impostas pela pandemia (como se ela própria não as vivesse também), somadas aos riscos concretos de contaminação, falta de informação e medo, pode funcionar como justificativa para comportamentos autoritários e violentos por parte dos homens, como ponderam Kofman e Garfin (2020). Esses elementos podem ajudar a compreender os índices crescentes apresentados pelo The Guardian (2020).
A teoria da dominação social (Sidanius, Devereux, & Pratto, 1992) explica como, para validar a ordem social, geram-se estereótipos que legitimam tanto as posições vantajosas como as desvantajosas. A ideia de um homem que tem certa licença para ser violento é complementada pela imagem de uma mulher implicante que oprime o seu parceiro. Tomando como base a argumentação de Ståhl, Eek e Kazemi (2010), esse tipo de imagem pode estar associada a um movimento de justificação do sistema e, guardadas as devidas proporções, transforma vítimas em culpadas da mesma forma que nos casos de estupro. A infelicidade no matrimônio ameaça o ideal de sociedade e alguém precisa ser responsabilizado por tal insucesso. Se a mulher é vista como a algoz carcereira, o que também corrobora a visão dualista acerca dos estereótipos de gênero (Kwiatkowska, 2013), a resposta agressiva do homem, conforme Chalman et al. (2021), chega a ser tida como natural.
Estereótipos relacionados à vida familiar: com filhos é pior
Nesse contexto, ter filhos acaba sendo um fator agravante para a situação. Muitos memes estabelecem uma grande diferença entre viver a pandemia apenas como casal e vivê-la com filhos. Duas subcategorias emergem desta: o caos e a sobrecarga materna. Um vídeo argentino aconselhava: “Antes de ter filhos, pense que pode haver uma pandemia”. A Figura 5 faz um pesado paralelo entre a pandemia e o enredo de “O Iluminado”, de Stanley Kubrick. No filme, uma família está confinada em um hotel fechado para o inverno, oportunidade para o pai, escritor, trabalhar em seu próximo livro, ao mesmo tempo que são pagos para dar manutenção à propriedade. Ele, contudo, vai sendo acometido por alucinações e persegue a esposa e filho, tentando matá-los.
Figura 5. A vida familiar com filhos é pior. [Algumas semanas de isolamento com a família. O que pode dar errado?].
O caos
O material analisado demonstra que a situação com crianças é complexa e, quando são pequenas, torna-se incontrolável. Não há possibilidade de trabalho remoto (Figura 6), pois as demandas dos filhos ocupam todo o tempo e energia. As famílias perderam, repentinamente, o suporte da escola e, na maioria dos casos, também dos ajudantes domésticos.
Figura 6. O caos doméstico. [Saudações a todos os que estão trabalhando em suas casas].
O isolamento causado pela pandemia provoca uma ruptura na rotina das crianças, o que pode causar sentimentos de confusão, irritabilidade, intensificação de comportamento opositor e desafio a limites. Isso se torna especialmente perigoso quando o convívio é intensivo em um período de ameaça à saúde, ao emprego e à estabilidade, fatores propícios para desencadear reações agressivas por parte dos pais. Entre as recomendações que Humphreys et al. (2020) propõem para pais, estão o reconhecimento de que sentimentos e comportamentos negativos são esperados em tal contexto e que estratégias para a estruturação de uma rotina familiar constituem importantes maneiras de enfrentamento do problema.
Um dos pontos mais delicados em relação a essa questão específica diz respeito ao papel que a escola exerce no cuidado com as crianças, pois uma parcela significaticativa de constatações de maus-tratos acontece no ambiente escolar. O fechamento das escolas e a adoção do ensino remoto provocam uma dupla piora no caso das crianças em situação de vulnerabilidade, uma vez que retiram a oportunidade de atenção escolar e estressam ainda mais uma dinâmica fragilizada. Campbell (2020) alerta para a expectativa de uma grande quantidade de casos pós-pandemia e propõe a participação da comunidade no sentido de denunciar situações de violência doméstica.
A sobrecarga materna
Em meio à complexidade de conciliar as atividades domésticas com o trabalho, um conjunto de memes deixa evidente que a mãe quem arca com o maior fardo desse trabalho, conforme se observa na Figura 7.
Figura 7. A sobrecarga materna.
A Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, proposta pela Organização das Nações Unidadas (Organização das Nações Unidas [ONU], 2015) para o desenvolvimento sustentável do planeta, prevê 17 frentes de atenção específicas. Entre essas, destacam-se o ODS 5 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) que trata de igualdade de gênero e ODS 8 dedicado ao trabalho decente e crescimento econômico, no qual consta a meta de alcançar o trabalho decente para todas as mulheres e homens com igual remuneração. O ODS 5 trata da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, esclarecendo que o trabalho não remunerado sustenta a vida diária e é realizado, majoritariamente, por mulheres, o que é corroborado por estudos que evidenciam a desvantagem de condições para as mulheres, ainda maiores quando precisam continuar seus estudos para progredir profissionalmente (Braga, Araújo, & Maciel, 2019; Melo & Marochi, 2019; Menezes, Santos, Veloso, Freitas & Santos, 2012).
Contudo o estereótipo perpetuado nos memes reforça a ideia de que o trabalho doméstico continua sendo visto como atribuição feminina e, como recurso humorístico, enuncia aspectos da realidade que não se dizem ou que se supõem que podem causar certo conflito (Casado, 2017). Esta lógica está presente nos estudos de Blair-Loy, Hochschild, Pugh, Williams e Hartmann (2015) e Vieira e Amaral (2013), nos quais se evidenciam condições desfavoráveis ao progresso profissional da mulher, que vão em direção contrária das metas da ONU (2015). Apesar de possuírem melhor formação educacional que os homens, recebem cerca de 20% a menos que eles no mundo todo. O fenômeno do “teto de vidro”, expressão empregada para referenciar um bloqueio invisível na ascenção profissional feminina, está diretamente associado à maternidade e ao cuidado com os filhos (ONU, 2019).
Essas ideias reforçam também o estereótipo secular de que o cuidado com filhos é papel da mulher, que deve ser subserviente ao homem e à família, conforme pontua Espinoza (2016). Como no sistema patriarcal tradicional, não cabe ao homem cuidar da casa ou dos filhos, tal tipo de estereótipo de gênero se materializa em uma situação de franca desvantagem para a mulher, conforme alerta o Escritório de Direitos Humanos da ONU (OHCHR, 2014).
Considerações Finais
Na ideia da pandemia em meio ao convívio familiar, existe uma questão de sofrimento mais fundamental, que tem a ver com a perda dos níveis de liberdade. A pandemia em geral limita as possibilidades de escolher o que fazer, como e quando fazer, e isso se torna ainda mais difícil no caso de ter um companheiro e basicamente impossível no caso de ter filhos.
Essa noção de perda de escolha se manifesta com um estereótipo de gênero, uma vez que quem mais sofre com a perda da liberdade é o homem. As mulheres parecem ter como base graus de liberdade inferiores, pois os mandatos culturais que recaem sobre ela, entre outros, um lugar essencial e prioritário na educação e no cuidado dos filhos, implicam certa restrição às suas possibilidades de movimento.
O preconceito de gênero se evidencia no estereótipo que mostra as mulheres dentro de casa e os homens fora dela, logo, no contexto do confinamento, a mulher está no lugar “dela”, enquanto o homem está confinado em um espaço estranho, um espaço no qual deve até mesmo aprender regras básicas para habitar. A liberdade, entendida operacionalmente como a capacidade de escolha, é também valorizada na ambivalência com que a família se apresenta no contexto geral, pela forma como a família se apresenta como um bem, como algo desejado, como algo a ser cuidado e retomado o quanto antes, porém desde que existam possibilidades de escolha, e não quando se apresenta como algo imposto, caso em que a família parece um assunto entediante.
As dimensões individual e coletiva aparecem não como uma continuidade, mas como um versus, uma oposição, muito alinhada à lógica neoliberal. Projetos coletivos como o de um casal ou de uma família implicam necessariamente a renúncia às questões individuais. Quanto aos achados em relação à vivência da pandemia com crianças, o humor permite uma fuga do politicamente correto, mostrando a complexidade do processo parental, longe da idealização da família tradicional mais antiga, como espaço protegido, com regras e funcionamento claro. Assim, a educação é vista como um caos, mas é algo desejado, porque existe a possibilidade de escolha e, também, há afetos envolvidos.
Ao contrário do que acontece no caso das alusões a casais com filhos, no caso de casais sem filhos, ou quando as referências são feitas apenas ao casal, sucede que se trata antes de um regresso a representações mais arcaicas das formas de relação. O papel restritivo das mulheres é exagerado, assim como a submissão dos homens às mulheres e ao ambiente doméstico. Em suma, a reativação de estereótipos de casais mais arcaicos resulta em lógicas machistas que legitimam diferenças de tarefas, cuidados infantis e papéis de gênero, podendo também legitimar a violência contra as mulheres, na medida em que são apresentadas como uma figura controladora, sempre insatisfeita, de forma que a violência é uma possível saída.
Pode-se pensar que, em um contexto de alto estresse ou alta tensão como o da pandemia, o confinamento tensiona as relações sociais, aumentando a incerteza e gerando uma necessidade ativa de certezas. Nesse sentido, as zonas cinzentas do que poderia ser uma mutação cultural entre o feminismo e o modelo patriarcal deixariam as pessoas com menos ferramentas de orientação comportamental e, portanto, mais vulneráveis ou ansiosas. Em períodos de tensão, constuma-se dar preferência ao conhecimento aprendido, e não ao processo de aprender. E os modelos patriarcais de comportamento são mais conhecidos, ao passo que os mais igualitários ainda estão em construção e não são socialmente assentados.
Devem-se considerar as limitações do presente estudo em relação ao modo de coleta material, que procurou captar a circulação espontânea de imagens e vídeos humorísticos em meio à pandemia da covid-19. Sugere-se que novos estudos possam empregar modos ativos de busca, como o emprego de hashtags e estratificação por canais de veiculação, além de entrevistas com homens e mulheres a partir da apresentação de imagens como as que compõem este trabalho.
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Recebido em: 30/09/2020
Última revisão: 20/12/2020
Aceite final: 21/12/2020
Sobre os autores:
Hector Cavieras-Higuera: Doutor em Psicologia pela Universidade de Chile. Especialista em Psicologia Social, Exclusão, Preconceito e Legitimação do Ordenamento Social. Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Católica Silva Henríquez. E-mail: hcavieres@ucsh.cl, Orcid: http://orcid.org/0000-0001-7506-9692
João Carlos Caselli Messias: Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Campinas. Graduado em Psicologia pela PUC-Campinas. Docente permanente na PUC-Campinas. E-mail: joao.messias@puc-campinas.edu.br, Orcid: http://orcid.org/0000-0002-6487-4407
Laura Baldan: Bolsista de Iniciação Científica CNPq no Colégio de Aplicação Pio XII. E-mail: llaura.baldan@gmail.com, Orcid: http://orcid.org/0000-0002-2372-244X
1 Endereço de contato: Av. John Boyd Dunlop, s/n, Prédio Administrativo CCV, Jardim Ipaussurama. CEP 13060-904, Campinas, SP, Brasil. Fone: + 55 (19) 3343-6891. E-mail: joao.messias@puc-campinas.edu.br