Editorial
Enquanto escrevemos este editorial, temos algumas esperanças e possibilidades de boas-novas em nosso horizonte. Após 19 meses convivendo com a pandemia da covid-19, oficialmente assumida em março de 2020, e de aproximadamente 606 mil mortes, chegamos a 116 mil pessoas vacinadas no país. Dessas, temos cerca de 74% da população com ao menos uma dose e 55% de imunizados graças aos investimentos da ciência e das práticas de Saúde Coletiva operacionalizadas pelo SUS.
As reflexões sobre a pandemia da covid-19 e suas relações com a saúde física e mental de indivíduos e coletivos seguem como pauta da Revista Psicologia e Saúde. No v. 13, n. 4, que ora apresentamos, temos três artigos que abordam especificamente aspectos dessas relações. Eles dizem de impactos na saúde mental de populações específicas (e.g., universitários) e de padrões comportamentais durante o distanciamento sanitário. Além desses manuscritos, temos outros 12 que demonstram que a produção de saúde e adoecimento está ancorada nas condições materiais de existência das pessoas e, necessariamente, pressupõe aspectos físicos e psíquicos.
No presente número, leremos sobre suicídio e violência autoprovocada, fenômenos importantíssimos para a Saúde Coletiva Brasileira. Segundo o Ministério da Saúde (2021), entre 2010 e 2019, houve o registro de 112.230 mortes por suicídio, com um aumento de 43% entre o total registrado em cada um daqueles anos. Em 2010, foram 9.454 mortes, enquanto em 2019, 13.523. Concomitantemente, o v. 13, n. 4, apresenta resultados de investigações sobre o adoecimento mental de professores e estudantes do Ensino Superior. Relatório recente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES, 2019) indica que mais de 83% dos estudantes universitários do país relatam sofrimento psíquico, e, desses, quase 9% indicam ideações de autoextermínio. No que tange aos professores universitários, estudos têm indicado o sofrimento psíquico ocasionado pelos embates entre o “orgulho do que faço” e as condições em que se faz (e.g., Goulart & Antunes, 2019; Tundis & Monteiro, 2018). Essa temática se conecta às investigações que ora se apresentam nesse número da Revista Psicologia e Saúde que versam sobre a saúde ocupacional de trabalhadores e trabalhadoras. Por fim, a relação entre aspectos físicos e psíquicos aparece nos demais artigos aqui publicados. Eles sinalizam a integralidade da atenção à saúde a partir de temáticas como drogadição, alimentação e imagem corporal, saúde bucal, entre outros.
Assim, fechamos o ano com um número que reitera aquilo que temos apresentado nos editoriais de nosso periódico ao longo de todo 2021: a saúde não é apenas a ausência de doenças, mas uma condição produzida na interlocução entre bem-estar orgânico e inúmeros atravessamentos de bem-estar social. Ou seja, a saúde e o adoecimento físico e mental se produzem a partir das condições materiais, socioculturais, em que indivíduos e coletivos existem.
Desejamos a todas e todos uma boa leitura!
Rodrigo Lopes Miranda
Alberto Mesaque Martins
André Elias Morelli
Arnold Groh
Eric Murillo-Rodríguez
Felipe Maciel dos Santos Souza
José Angel Vera Noriega
Luziane de Fátima Kirchner
Márcio Luís Costa
Maria Eugenia Gonzalez
Sonia Grubits
Editores
Referências
Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior. (2019). V pesquisa do perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das Universidades Federais. Brasília: ADIFES. Recuperado de www.ufes.br/sites/default/files/anexo/v_pesquisa_do_perfil_dos_graduandos_16_de_maio.pdf
Goulart, M. S. B. & Antunes, J. C. (2019). Professores: Sofrimento mental na universidade pública. Trabalho & Educação, 29(3), 95-112. doi:https://doi.org/10.35699/2238-037X.2020.21962
Ministério da Saúde. (2021). Mortalidade por suicídio e notificações de lesões autoprovocadas no Brasil. Boletim Epidemiológico, 52(33). Recuperado de https://www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/setembro/20/boletim_epidemiologico_svs_33_final.pdf
Tundis, A. G. O. & Monteiro, J. K. (2018). Ensino superior e adoecimento docente: um estudo em uma universidade pública. Psicologia da Educação, (46), 1-10. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-69752018000100001
doi: http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v13i4.1998