Editorial
Os artigos presentes neste número da Revista Psicologia e Saúde foram editorados com apoio da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e recursos da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP). Em seu conjunto, eles apontam para uma mudança em curso na sociedade ocidental. Em especial, para as modificações do entendimento Humano de violência, que se reflete nas antigas e novas demandas dos trabalhos de cuidado com o outro. Um avanço na percepção da violência, que não se aplica mais apenas à concreta violência física, assim como não somente à violência emocional e sexual dirigida, mas também à violência das relações desumanizadas.
No cuidado em saúde, a necessidade de humanização é reconhecida há muito tempo e se materializa em políticas de estado há um par de décadas. Por um compromisso ético com a humanização do cuidado, a ciência brasileira e mundial vem realizando francos avanços e desenvolvendo tecnologias leves, que ampliam significativamente a complexidade do trabalho de cuidar do outro. Não basta a mera aplicação de um conjunto de técnicas e tecnologias para a prevenção, recuperação ou reabilitação dos corpos, mentes e comportamentos. Apesar de importantes, tais aplicações mecanizadas não se mostraram suficientes.
A violência da desumanização é frequentemente verificada e questionada nos ambientes de saúde, como uma prática atual inseparável do cuidar. Entretanto as relações desumanizadas estão presentes nas interações cotidianas, desde relações familiares até os atendimentos empresariais por canais telefônicos com o consumidor. É natural também que estejam presentes nas escolas, instituições públicas e no trabalho, entre outros, precisando todos esses ambientes relacionais de ações humanizantes.
Nas relações de cuidado, profissionais ou não, conforme verificam os trabalhos presentes neste número, o entroncamento com a desumanização é inevitável. Tal experiência de violência é paradoxalmente abrandada e ampliada quanto mais sensível o indivíduo está para o compromisso ético do cuidado. A aproximação humanizada, enquanto abranda a violência das relações, aproxima o cuidador das desumanas trajetórias violentas do indivíduo e do desumano corpo ferido, deteriorante ou morto. Por outro lado, aqueles que não se arriscam em cuidar e humanizar suas relações, padecerão ainda mais nesta sociedade de seu mal-estar.
Aos que se dedicam ao cuidado, a crescente complexidade do trabalho impõe um desafio. Quais os limites dessa esfera de ocupação em uma sociedade que delineia tais limites ainda pela disponibilidade do tempo cronológico e pela necessidade de rendimento? A desocupação motora e seus severos juízos resultantes impedem a recuperação das experiências de violência, ao mesmo tempo que desidratam o tempo para a humanização. Nesse sentido, considerar ocupação de cuidar como o esforço individual para a humanização das relações nas quais serão aplicadas as técnicas e tecnologias, parece um norteador melhor aplicável para a constatação dos limites do indivíduo para a dedicação à profissão da saúde.
André B. Veras
Rodrigo L. Miranda
André A. B. Varella
Arnold Groh
Ednéia Cerchiari
José Angel Vera Noriega
Sérgio Machado
Sônia Grubits