Editorial – Sujeitos, História e Saúde Pública

É com um misto de alegria e saudosismo que publicamos o último número, do ano de 2018, da Revista Psicologia e Saúde. Alegria, porque temos boas novas para 2019: nossa revista passará a publicar 12 artigos por número, graças ao crescente aumento da quantidade e da qualidade dos artigos que temos recebido, bem como à presteza da atenção de nossos revisores. Inclusive, muito obrigado a todos vocês! Além disso, estamos muitíssimo felizes em ver que temos circulado em diferentes países, como nos mostra a publicação, nesta edição, de artigos vindos da Argentina, Canadá e Colômbia. Por fim, contamos com a volta de nosso primeiro editor, Márcio Luís Costa, agora como editor associado. Seja bem-vindo, Márcio! O saudosismo é decorrente da saída de nossos amigos André Augusto Borges Varella (UCDB) e Edneia Cerchiari (UEMS), do grupo de editores associados. Já sentimos sua falta!

Este número traz à tona, em grande medida, reflexões urgentes sobre três aspectos: (i) espaços sociais - saúde pública -, (ii) sujeitos - mulheres e crianças - e (iii) história – nossa relação com o tempo. A partir da interconexão entre tais grandes temáticas é que se situam os nove artigos publicados neste número.

Primeiramente, o debate sobre a saúde pública e os sistemas de atenção à saúde pode nos auxiliar a compreender a relação entre saúde, sociedade e cidadania (Rodrigues & Santos, 2009). Aqui, situam-se, mais claramente, três artigos publicados nesta edição. O primeiro, intitulado Da anormalidade na saúde para a anormalidade na educação, de Cláudia Dourado e Anita Bernardes, problematiza certo deslocamento de enunciados de “normalidade” e “anormalidade”, do campo da saúde para a educação, como forma de compreender a articulação entre formas de governo e modos de condução de condutas. O segundo, Percepção dos profissionais para implantação do Teste Rápido para HIV e Sífilis na Rede Cegonha, assinado por Kátia Rocha e colaboradores, investiga a avaliação dos profissionais da Atenção Primária sobre a implantação do aconselhamento e do teste rápido de AIDS e Sífilis, na Rede Cegonha, no país. O terceiro, Vivência de familiares sobre visita de crianças e adolescentes em UTI adulto, de Letícia Gabarra e Maria Emília Nunes, apresenta resultados de uma investigação que focalizava a vivência de familiares em relação à comunicação, à tomada de decisão e ao manejo da entrada de crianças e adolescentes para visitar os pacientes internados em UTI adulto.

Um segundo conjunto de textos, aqui publicados, dá ênfase aos sujeitos “excluídos da história” (Perrot, 1988/2017), particularmente as mulheres. Refletir sobre tais sujeitos nos faz perceber questões vinculadas aos “excluídos da história”. Como consequência, poderíamos compreender certos discursos e práticas de poder que, por sua vez, permitem alguma subversão da dominação dos “donos” da história. Aqui, temos, mais claramente, dois artigos. O primeiro, cuja autoria é de Ana Caroline Silva e Renata Pegoraro, com o título de A vivência do acompanhamento pré-natal segundo mulheres assistidas na rede pública de saúde, apresenta resultados de uma pesquisa, conduzida em Uberlândia (Minas Gerais), sobre a vivência do acompanhamento pré-natal na perspectiva de mulheres assistidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em seguida, temos o manuscrito Violência contra a mulher no namoro: Percepções de jovens universitários, assinado por Tatiana Souza e colaboradoras, investigou a percepção de jovens heterossexuais, do sexo masculino, sobre a violência contra a mulher.

Por fim, discutir sobre o tempo e, principalmente, sobre a história, permite-nos compreender rupturas e continuidades, ao longo do tempo. Como nos diz Hartog (2006), a contemporaneidade se rende a uma confiança no progresso, o presente se torna onipresente, sem uma necessidade clara de um passado. Assim, refletir sobre aspectos contemporâneos, a partir de uma mirada ao passado, ajuda-nos a compreender o presente e projetar um futuro. Neste cenário, temos os últimos quatro artigos que compõem esta edição. O La psicologia clínica ante el sujeto de la contemporaneidad, de Juan Jaramillo e Carlos Sandoval, aponta-nos a necessidade de revisões profundas no campo da Psicologia Clínica, tornando-a pertinente às características e às necessidades dos sujeitos, na contemporaneidade. O segundo, intitulado ¿Qué les pasa a estos niños? Respuestas desde los saberes psi en Buenos Aires (1900-1940) e assinado por Carolina Farias-Carracedo, problematiza como os saberes psicológicos e psiquiátricos se materializaram, ao longo do tempo, como política pública na solução de questões vinculadas à infância, em Buenos Aires (Argentina), desde o começo do século XX até 1940. Em seguida, temos o texto de Elissa Rodkey e Kelli Vaughn-Johnson, intitulado Problematic women: Psychology, gender, and health in North America, que introduz a história do gênero como objeto da relação Psicologia e Saúde, a partir das pesquisas de diferenças de gênero, do século XIX e do ativismo do século XX. Finalizando o grupo de artigos com miradas ao passado, temos o material A dimensão do belo no tempo, de José Carlos Rosa Pires e colaboradores, cujo debate mostra certa história do conceito de beleza no ocidente e, em seguida, debate implicações do “corpo ideal” e da “beleza”, na contemporaneidade.

Assim, esta edição nos convida a refletir sobre as relações entre Psicologia e Saúde, principalmente a partir de temáticas, objetos e perspectivas atuais e influentes. Esperamos que tais textos permitam uma reflexão sobre suas práticas profissionais e investigativas, enquanto todos aproveitam a leitura!

Rodrigo Lopes Miranda

André B. Veras

André A. B. Varella

Arnol Groh

Eric Murillo-Rodríguez

José Angel Vera Noriega

Márcio Luis Costa

Paulo Coelho Castelo Branco

Sergio Machado

Sonia Grubits

Editores

Referências

Hartog, F. (2006). Tempo e patrimônio. Varia Historia, 22(36), 261-273.

Perrot, M. (2017). Os excluídos da história: Operários, mulheres e prisioneiros (7a ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra. Original publicado 1988.

Rodrigues, P. H. A., & Santos, I. S. (2009). Saúde e cidadania: Uma visão histórica e comparada do SUS. São Paulo: Atheneu.

DOI: http://dx.doi.org/10.20435/pssa.v10i3.843